Eu sou IRMÃO K.
Irmãos e Irmãs, permitam-me transmitir-lhes as minhas homenagens pela sua Presença.
Foi-me pedido, hoje, pela Assembleia dos Anciãos, com as minhas palavras, para dar-lhes uma série de elementos que podem permitir-lhes, seguindo-os, talvez, seguirem-se vocês mesmos, a fim de descobrir o que vocês São.
Eu tive a oportunidade de falar sobre a Liberdade, sobre a Autonomia, sobre o conhecido e o Desconhecido.
Na minha última vida encarnada, sobre esta Terra, eu vivenciei, muito jovem, um choque.
O choque que chega a abalar as próprias estruturas da vida em meio à pessoa e (frequentemente quando se trata de uma perda) uma perda vivenciada, é claro, como um drama.
Muitas vezes, nessas condições, há como uma sideração da própria vida: uma parada, um assombro.
Uma dor indizível que, repentinamente, de um único golpe, vai mudar o que eu denominaria sua relação com o mundo, sua relação com a vida e, de qualquer forma, sua relação com a vida.
Nos dias, nas semanas e nos meses que se seguiram ao choque que eu vivenciei (e que me é pessoal), ao meditar sobre o próprio sentido desse choque, do seu significado e da sua relação com a minha própria vida, de um golpe, de um único, o local onde eu estava (que eu olhava como uma forma de devaneio), esta paisagem, esta natureza maravilhosa que eu observava, subitamente, transformou-se.
Ela se tornou Vivente, como animada de um sopro outro do que me era dado a ver pelos meus olhos.
Tudo se animou, tudo se tornou (e eu não tenho palavra melhor) Vivente.
No momento anterior, o que eu achava bonito e majestoso foi, então, considerado como morto.
E, no entanto, eu tive que me render à evidência: o que eu observava estava sempre aí, mas possuía qualidades diferentes.
Minha introspecção, minha meditação de então, fez-me transportar, prioritariamente, não tanto no sentido da experiência, que é incomunicável, nem mesmo exprimível em palavras ou por qualquer arte que seja.
Esta experiência, que eu qualifiquei, em seguida, de indizível, não podia ser comunicada de qualquer forma.
Porque, o que se conhece, durante toda a vida (por exemplo, a maneira que vocês comem), vocês podem expressá-lo, mas ninguém pode comer no seu lugar, ninguém pode ver através dos seus olhos.
Entretanto, todo mundo vê e todo mundo come.
E mesmo se as circunstâncias desses atos podem tomar uma cor diferente para cada ser, trata-se, fundamentalmente, dos mesmos atos, das mesmas funções, para todo ser humano.
Mas aí, nisso que ocorreu, nisso que se desenrolou, existia um elemento estritamente desconhecido, que me fez sair, de algum modo, do conhecido.
E, no entanto, enquanto vivendo isso, pela qualidade de introspecção que era a minha, eu compreendi, de imediato, que, nunca, eu poderia compartilhar esta experiência transcendente.
Que, nunca, eu poderia, com palavras, compartilhar o que eu tinha vivenciado.
Então, eu percebi que a única coisa que era possível, naquele momento (graças a esta faculdade de introspecção), era descrever, de alguma forma, os meios que iam permitir ver além do que era visto, além do Véu, ir do que é conhecido a este Desconhecido.
E que porque isso era a consequência (para mim, como para todo ser que vive isso) de viver a Liberdade, a Autonomia e o que eu denominei, recentemente, a Responsabilidade.
Inicialmente, o que eu tinha vivenciado era completamente independente de qualquer referência a um passado, de qualquer referência à minha própria vivência anterior, de qualquer referência a uma mínima projeção, qualquer que seja, a um mínimo desejo.
No instante anterior, isso não estava aí.
No instante seguinte, isso estava aí.
E este instante seguinte radicalmente transformou o que eu era.
Houve, efetivamente, um antes e um depois.
Da mesma maneira que o trauma da perda enorme que eu vivenciei estava inscrito como um antes e um depois.
Um antes em que eu nada tinha perdido.
E um depois em que tinha o sentimento profundo da perda, do sofrimento, do luto.
Aí, do mesmo modo, saindo desse conhecido habitual, foi-me dado a viver (sem o procurar, é claro) algo que não tinha nada mais a ver com o campo de experiências habitual do ser humano, que isso seja no ordinário, como no espiritual.
O que foi mais notável é que, naquele momento, minha relação com o mundo, minha relação com os outros, foi irremediável e radicalmente transformada.
Tudo o que eu percebia, tudo o que eu vivia tinha uma tonalidade, uma cor, uma impregnação que não correspondia absolutamente com nada do que os sentidos podiam proporcionar, do que o intelecto podia proporcionar, ou do que as próprias emoções podiam proporcionar.
Eu estava, então, frente ao que eu nomeio, ainda hoje, este Desconhecido que, é claro, tornou-se a minha natureza, como ela está prestes a se tornar a de vocês.
Mas em toda a minha vida, por este choque inicial, eu compreendi e me apreendi e tentei transmitir, da melhor forma que eu podia, que este Indizível, que este Desconhecido, apenas podiam se manifestar e existir (enquanto estando sempre aí) a partir do momento em que o conhecido tivesse desaparecido na totalidade.
Apreendam-se bem de que não era questão de negar o que quer que seja, mas, sim, de viver algo diferente, sem buscá-lo, e eu analisei, então, as circunstâncias da inteligência da relação e eu tentei levar (na maioria das minhas entrevistas) a Consciência dos meus Irmãos e Irmãs no que podia representar, de algum modo, obstáculos na manifestação do que estava aí, desde toda Eternidade, desde todo tempo, mas que, simplesmente, mecanismos particulares, inscritos em meio à pessoa, impediam, literalmente, de ser vivenciado.
Eu me apreendi de que toda relação devia ser livre e de que toda relação que estava inscrita numa dominação, num poder, numa organização (mesmo a mais lógica: social, espiritual, familiar), jamais permitia viver isso.
De que enquanto existia a persistência de um conhecido, enquanto a pessoa mantinha esse conhecido (mesmo em seus aspectos os mais agradáveis, os mais atraentes, os mais amorosos, digamos), este Absoluto não podia penetrar ou não podia, de algum modo, deixar-se penetrar por este Desconhecido.
Eu me apreendi, também, de que a relação não tinha que ser rompida, que ser negada, que ser recusada, mas, sim, realmente (e não há palavra melhor), que ser transcendida.
Enquanto vocês estão fechados em uma relação, qualquer que seja, mesmo a mais bela, vocês não podem descobrir o Desconhecido.
Porque a relação, por essência, é sempre fundamentada em uma necessidade de confiança, em uma necessidade de amor, em uma necessidade de certezas.
Mas todas essas relações não são Livres.
Elas dão a impressão da liberdade, do substituto da liberdade, do substituto do amor, mas elas não irão lhes permitir, jamais (em sua realização a mais total, mesmo), viver o Desconhecido e viver a Liberdade.
Não há então, fundamentalmente, relação livre.
A única relação verdadeira é aquela que se estabelece muito além da pessoa, muito além da alma, muito além do Espírito, muito além de todo discurso podendo fazê-los crer na existência de relações entre almas, entre Espíritos, entre as Dimensões, ou entre vocês e seja com quem for.
Eu cheguei, naquele momento, a desfazer minha afiliação de qualquer organização.
Porque, a partir daquele instante, eu me apreendi de que nenhum movimento, nenhuma organização, nenhum grupo podia realizar isso, porque o conjunto disso não podia se inscrever em nada de conhecido, nada organizado, nada estruturado ou sistematizado.
O Desconhecido não pode se acomodar a nada de conhecido.
Enquanto houver o conhecido, há persistência, em meio a este mundo, desta pessoa, qualquer que seja a sensação, quaisquer que sejam as experiências, qualquer que seja ainda o lado agradável ou bonito.
O conhecido jamais conduz ao Desconhecido.
Então, é justamente algo que é preciso desfazer-se e é preciso se desfazer, já, de toda relação.
Apreendam-se bem de que eu não peço, por aí, nem os aconselho, de forma alguma, a romper ou anular qualquer relação, mas, bem mais, a transcendê-la, além de todo sentido de organização, além de todo sentido de propriedade ou de apropriação.
A Liberdade, a Autonomia, a Responsabilidade, o Si, apenas pode estabelecer-se a partir do momento em que vocês tenham interrompido, nos próprios mecanismos do seu pensamento, todos os apegos, a qualquer religião que seja, a qualquer pessoa que seja, a qualquer identidade que seja.
Vocês não podem pretender ser Livre sem se Liberar realmente.
Vocês não podem se reencontrar para estar no Desconhecido, estando no conhecido, qualquer que seja.
Quaisquer que sejam os nomes que possam dar diferentes correntes tradicionais e iniciáticas, mesmo em sua justeza de palavras, em nada poderá permitir-lhes viver o Desconhecido, enquanto vocês estiverem no conhecido.
Porque, por definição, sobre este mundo, tudo o que é conhecido de vocês pertence, necessariamente, a uma reprodução, a um efêmero, a algo que pertence a uma convenção, qualquer que seja.
Convenção que está inscrita, necessariamente, na dependência afetiva, social, familiar e que, jamais, irá permitir-lhes viver a Independência.
Os poetas têm dito: “seus filhos não são seus filhos”.
Essa é a estrita verdade.
Enquanto existir, em vocês, um sentido de propriedade, um sentido de apego, a quem quer que seja, a qualquer conceito que seja, vocês não podem pretender o Desconhecido, a Liberdade e, ainda menos, a Liberação.
Apreendam-se bem (e aí está todo o paradoxo ou, se o podemos dizer, a aparente dificuldade) de que não há, portanto, nada a rejeitar, nada a romper, exceto em vocês mesmos, ao nível do que vocês concebem, do que vocês creem, de tudo o que foi experimentado.
Nenhum Desconhecido pode se revelar enquanto vocês estiverem instalados no conhecido.
Nenhuma Liberdade pode aparecer enquanto vocês mesmos não estiverem Livre.
Ora, a experiência que eu vivenciei, este acesso ao que era Vivente, é a Liberdade.
Porque isso É, desde toda Eternidade, independentemente de qualquer circunstância, independentemente de qualquer olhar, independentemente de qualquer pessoa.
Eu fui convidado, então, a expressar-me longamente (sob forma de imagens, às vezes), tentando dizer e exprimir que jamais qualquer outro ser humano poderia fazê-los viver este Conhecido (porque isso é uma abordagem pessoal, além da pessoa), que não podia existir qualquer salvador exterior, que não podia existir qualquer opinião exterior a vocês mesmos e que, a partir do momento em que uma relação se estabelece (no conhecido, de casal, de mestre a discípulo), não pode ali haver Liberdade.
Eu então afirmei, e eu reafirmo, hoje, que não há qualquer guru, qualquer mestre, qualquer ser que possa conduzi-los à Liberdade e à Liberação.
Há apenas ressonâncias (em meio a uma relação a mais livre possível) que podem levá-los a reconsiderar o que vocês chamam de liberdade, de liberação, o que vocês chamam de conhecido.
Vocês podem, como diriam outros Anciãos, eliminar (sem rejeitar) da sua cabeça, tudo o que seja conhecido.
O Desconhecido não pode ali se encontrar.
Não há, portanto, solução de continuidade, e todo engano da pessoa está aqui: é crer que a Luz, impactando-se nas Estrelas, nas Coroas, vai preenchê-los e vai transformar alguma coisa em vocês.
É impossível.
Isso foi uma etapa.
Mas viver a Liberdade e a Liberação é abandonar muito mais que a pessoa.
É abandonar até mesmo a Luz que é vivenciada como exterior.
Ser Luz não é preencher-se de Luz.
Ser Livre não é evocar a Liberdade.
É, já, apreender-se do que ela não é.
Do mesmo modo, o Absoluto não pode ser compreendido.
Ele apenas pode ser aproximado através do que ele não é.
Assim como houve durante o meu choque (que é também o choque de cada um) um antes e um depois, há, efetivamente, uma Passagem.
Essa Passagem não pode ser decidida em meio ao conhecido.
Ela necessita, além do Abandono à Luz, de um Abandono do Si e da pessoa, na totalidade.
O que não é, no entanto, um suicídio ou o fato de negar o que quer que seja, mas, sim, estar em uma lucidez nova, aceitar que não pode haver qualquer autoridade, qualquer ser, qualquer guru, qualquer deus, qualquer circunstância, que possa levá-los ao que vocês São.
Mais uma vez, é apenas afastando da sua consciência tudo o que é consciente, todas as experiências que, em última análise, vocês irão superar até mesmo a consciência do Si.
Resultando no que nós poderíamos denominar, de diferentes modos, o Tudo, o Absoluto, “Eu e o Pai somos Um”, ou, ainda, o Brahman e o Parabrahman ou, se vocês preferirem, o fim do conhecido.
Existirá sempre, em meio a toda relação, uma salvaguarda.
Esta salvaguarda sempre é inscrita em relação a uma norma, a uma regra.
Eu afirmo, como eu afirmava durante a minha vida, que nenhuma regra, nenhuma forma, nenhum limite pode se manter no Ilimitado.
Nenhuma definição, nenhum conceito e nenhuma percepção sequer (habitual, sensorial) pode definir o que não se enquadra em qualquer definição.
E, no entanto, é daí que se tem a Verdade, a Eternidade e que se tem, exclusivamente, o que vocês São, o que nós Somos.
A Liberdade inscreve-se em uma relação totalmente nova, desvencilhada, é claro, de todo apego, de todo papel, de toda função mesmo, e, sobretudo, de toda vontade inerente à pessoa.
Não há pior obstáculo a esta Liberdade do que a ‘vontade de bem’, do que a vontade de organizar, de estruturar esta experiência.
Não há pior obstáculo ao Desconhecido do que o conhecido.
Não há maior resistência do que o que vocês creem ser em meio ao seu conhecido: pessoa, vida, experiência, história pessoal, lenda pessoal.
Tudo o que vocês mantêm, mantém-nos, de maneira inexorável e definitiva.
É preciso, então, aceitar, como dizia nosso Comandante (ndr: O.M. AÏVANHOV) largar, nada mais ter, encarar o nada do conhecido, para viver o pleno.
Vocês não podem ser preenchidos por qualquer consciência do que deve preenchê-los, ou ser o que vocês São.
A postura da relação (qualquer que seja esta relação) deve ser concebida como uma postura de Liberdade e de Liberação total.
O Amor é esta Liberdade.
O Amor é esta Liberação.
Ela não está em uma projeção do que quer que seja no exterior do ser, mesmo que isso seja atraente, mesmo que isso seja tranquilizador, mesmo que isso possa parecer satisfazê-los.
Reflitam: por que, mesmo em meio a uma relação usual de casal, haveria necessidade de recomeçar algo que iria satisfazê-los permanentemente (seja olhar-se, fazer amor)?
Qualquer que seja o ato que vocês empreendam, com um outro ou uma outra, há necessariamente uma reprodução, porque há necessidade, efetivamente, de preencher isto que está vazio em vocês.
Ora, vocês preenchem com algo que jamais irá preenchê-los.
Qualquer relação do conhecido, qualquer relação com um outro ser, jamais poderá preenchê-los, de maneira alguma, porque vocês já estão preenchidos.
Aí está o que poderia parecer como funesto ou triste.
Como é que (por exemplo, na paisagem que me foi revelada) poderia não estar ali, no instante anterior?
O que mudou foi a minha visão, além de toda percepção e da própria visão ocular.
Passar do conhecido ao Desconhecido não pode acontecer enquanto vocês mantêm alguma coisa do conhecido.
Como diziam alguns ensinamentos no passado: “se tu encontrares Buda, mata-o”.
O mestre serve apenas para isso: para ser morto.
Toda relação é fadada ao fracasso enquanto vocês permanecerem no conhecido, mesmo que ela satisfaça o conjunto da sua vida.
O que vai restar, no momento da partida?
O que me restou quando eu perdi, jovem, o que eu tinha de mais caro aos meus olhos: o nada, a aniquilação.
E é em meio a esta aniquilação que nasceu (enfim, eu o acreditei) o que estava aí, desde toda Eternidade.
Eu, então, de algum modo, transcendi o conhecido, atônito diante do Desconhecido desta morte que me havia tomado o que eu tinha de mais caro, para descobrir que, de fato, nenhuma relação, em meio ao conhecido, podia satisfazer coisa alguma.
Foi, então, naquele momento, minha responsabilidade, como isso é hoje, atrair sua atenção, sua consciência, de que nada do que lhes é consciente, nenhuma relação presente com um outro, ou mesmo no interior de vocês, nas diferentes partes da pessoa, nenhuma lógica, nenhum contexto de referências, nenhuma ação, pode levá-los ao Desconhecido.
A Ação da Graça, esse Casamento Místico apenas se realiza, em última análise, com nada mais do que o que poderíamos nomear ‘você mesmo’, em outro nível (o duplicado, se vocês preferirem).
É o momento em que o complexo que foi nomeado, eu creio, inferior (o corpo físico e seus envelopes sutis), casa-se com o complexo, se o podemos nomear assim, além do conhecido, no Desconhecido, além mesmo do corpo de Estado de Ser, além mesmo do Si.
Naturalmente, muitos seres humanos vivem hoje o acesso, eu o denominaria assim, ao Si: a realização do Si.
De maneira totalmente inesperada, de maneira totalmente feliz ou, aí também, por vezes, depois de um sofrimento.
Mas mesmo esse Si, qualquer que seja a leveza que ele proporcione, não é a Verdade.
A única Verdade é aquela que vocês não podem imaginar, conceber, perceber e nem mesmo sentir.
O Absoluto está além de toda percepção e de toda sensação e, sobretudo, além de toda projeção, de toda relação, porque todas as relações tornam-se não apego.
O Casamento Místico, como eu o vivenciei olhando essa paisagem, vai muito além da simples comunhão do que é vivenciado, mas os faz perceber a ausência total de distância entre o que vocês acreditavam ser anteriormente (uma pessoa) e a própria paisagem.
Eu dizia, durante a minha vida, àquele que me perguntava, sobre esta outra margem que eu não podia fazê-lo atravessar.
Somente ele é que podia constatar, por ele mesmo, o que era esta outra margem.
É o mesmo, hoje.
Nenhuma afirmação, nenhuma experiência em meio ao conhecido (mesmo através de um caminho Vibratório, energético, que vocês vivenciaram, ou não), pode levá-los a esta outra margem.
Porque existe, em meio ao que é chamado de vida sobre este mundo, em meio à pessoa, qualquer que seja, um princípio que sequer é questão de discutir a existência, que eu denominaria princípio de sobrevivência.
Este princípio de sobrevivência inscreve uma forma de perenidade ilusória nesse corpo.
Se a mão é colocada sobre alguma coisa que está quente, independentemente da sua decisão, a mão se retira para evitar a queimadura.
Esses mecanismos de sobrevivência são perfeitamente conhecidos.
Eles não são, então, o Desconhecido e eles absolutamente não conduzem ao Desconhecido já que são, ainda, a salvaguarda impedindo-os, de maneira muito lógica, de aceder e de Ser este Desconhecido.
A relação justa é uma relação que se torna impessoal e que o é, porque no Si, como no Absoluto, não há mais limite, não há mais papel, não há mais função, não há mais organização.
O outro não é visto como uma outra forma, mas, sim, como parte integrante, além de toda visão, deste Desconhecido que nós Somos.
Em todos os tempos, os seres renunciaram a este mundo, esperando encontrar o outro mundo.
Muito poucos ali chegaram.
Porque renunciar ao mundo é renunciar à vida.
Ora, vocês não podem renunciar à vida, mesmo em seus apegos, negando-a.
Vocês apenas podem transcendê-la, transcendendo, justamente, o que eu chamei de relação.
A Liberdade e a Verdade são um país ou um território sem qualquer caminho.
Obviamente, a pessoa que vocês são, que vocês creem ser, vai fazê-los crer, permanentemente, na existência de um caminho, comum, através dos seus filhos, do ser amado, através de um amigo.
Ora, não existe qualquer caminho para o Absoluto.
Ele está aí, desde toda Eternidade.
Como o que está aí, desde toda Eternidade, poderia ser buscado ou encontrado, já que ele já está aí?
Quando nós dizemos que vocês São a Eternidade, que vocês São a Graça, que vocês São a Doação da Graça, isso não é uma afirmação gratuita ou uma autossugestão, que, aliás, de nada serve, porque aqueles que não o vivem apenas podem vociferar sua contrariedade e seu ódio frente a isso.
Assim é o ego, mesmo repleto de Luz.
Vocês devem, se tal for o seu desejo, liberar-se totalmente de tudo o que é conhecido, conceber que não há caminho, em última análise, para aperceber-se de que não há território, de que não há país, de que não há pessoa e de que não há mundo.
Sem, no entanto, que isso seja uma rejeição seja do que for.
O Desconhecido não tem o que fazer do conhecido, mas ele o integra.
O Ilimitado não tem o que fazer do limitado e, no entanto, o limitado apenas pode estar contido no Ilimitado.
Vocês estão exatamente na mesma situação.
Vocês estão exatamente na mesma suposição e há apenas vocês que podem realizá-lo, aceitando que estritamente nada há a realizar.
Isso não é um paradoxo, nem uma oposição, ainda menos um antagonismo.
A única relação exata não pode ser estabelecida com uma das partes do Tudo, mas, sim, com o Tudo.
Ora, toda relação com o Tudo, com o Absoluto, com o Brahman, é apenas a realização incondicional deste estado, além de todo estado, do que está muito além mesmo da Consciência.
A Consciência, em última análise (qualquer que seja: limitada ou do Si), será apenas, sempre, a expressão de uma simples separação, mais ou menos pronunciada.
Vocês não podem estar separados, de forma alguma, do que vocês São.
Vocês não podem limitar o que é ilimitado.
Nenhuma experiência irá ali conduzi-los.
Não há, aliás, qualquer caminho e como eu disse, qualquer território e qualquer país.
Se, contudo, a pessoa que vocês são, se, contudo, o Si que vocês são, não pode aceitar, nem mesmo considerar o que eu digo, então, nenhuma importância, porque, aí também, nada há a projetar em um desejo qualquer de ser isso porque vocês o São, desde toda Eternidade.
Nada há, então, a desejar, assim como nada há a projetar, assim como nada há a ser.
Há apenas que se estabelecer, de algum modo, no que já está estabelecido.
Nenhuma vida, nenhum conhecido, poderia mesmo ser considerado sem ser sustentado, contido, pelo Amor, pelo Desconhecido.
Muitas vezes o ser humano fala do Amor.
Ele mesmo criou religiões, em nome do Amor, cujos atos têm sido a antítese do Amor.
Todo mundo conhece as relações amorosas, filiais, maternais, mesmo as mais ideais, que sempre terminam tragicamente.
Por quê?
Porque a morte, inelutável, faz desaparecer toda ligação.
Então, é claro, a alma que reencarna em outra pessoa vai, por desespero ou por amor projetado, manter essas ligações, essas relações, sob outros papeis, sob outras funções, sob outras perspectivas, mas isso não é a Liberdade e jamais irá conduzir à Liberação.
Portanto, mesmo o carma, o livre arbítrio, é uma heresia, uma criação pura da limitação, do confinamento.
O que vocês São não conhece nada de tudo isso, o que vocês São está além de tudo isso.
Não basta conscientizá-lo porque isso não pode ser conscientizado, nem realizado, porque, justamente, isso sempre esteve aí.
Aí onde se colocam, disseram alguns Anciãos, sua Intenção e sua Atenção, realiza-se a Consciência do que vocês são ou do que vocês creem ser.
No que se refere ao que foi nomeado a Onda da Vida e que eu prefiro chamar de Doação da Graça, não há estritamente nada a fazer.
Não há nada a desejar.
Não há, tampouco, nada a esperar.
Há justamente que deixar Ser o que É, desde toda Eternidade, sem qualquer intervenção da pessoa, sem qualquer intervenção da emoção, do mental, do julgamento ou de qualquer espiritualidade.
A relação (quando ela é apreendida além de tudo o que pode ser conhecido) irá liberá-los porque, em última análise, a única relação que pode permanecer e que é Verdade, está muito além da relação, tal como é compreendida.
Ela é Comunhão, Fusão, Dissolução.
Ela é este Êxtase ou esta Íntase muito particular, além do Samadhi, onde a própria identidade (se ferozmente mantida na Ilusão) desaparece.
E no desaparecimento da Ilusão da identidade, há estabelecimento no Absoluto, onde, efetivamente (e concretamente, não por projeção, por desejo ou suposição) tudo é Um, porque na mesma Graça, na mesma Onda, na mesma Liberdade.
Apreendam-se bem, também, de que vocês não podem eliminar qualquer relação existente sobre este mundo, mas mudar o olhar, se servir da Inteligência para compreender que tudo está indissoluvelmente conectado.
Mas não conectado em uma relação de posse ou de amor, qualquer que seja, mas, sim, como a própria expressão da Natureza do Amor.
Eis ao que a Terra se desperta e se revela.
Eis ao que a Doação da Graça convida vocês: a Casar-se.
Mas não ao casamento com esse corpo ou com um outro corpo ou com uma outra alma ou com um outro Espírito.
Este Casamento com o Absoluto restitui vocês ao Absoluto.
Restitui vocês à única Verdade: aquela que não está inscrita no tempo e no espaço, aquela que não está inscrita em um caminho ou em um país ou em um território e, ainda menos, em qualquer organização, qualquer que seja.
Enquanto vocês pensarem que devem pertencer a alguém, a um grupo social, a um grupo humano, vocês não são Livres.
Ser humano é, justamente, escapar, sem renegar, a todo condicionamento, a toda percepção, a toda concepção, a refutar tudo o que é conhecido.
Não há outro caminho.
Não há outra possibilidade, doravante, senão Ser o que vocês São, aí onde vocês estão.
Esta Doação da Graça representa o momento final em que, como dizia A FONTE, o Juramento e a Promessa são revelados.
Eles sempre existiram.
Aí onde vocês se têm é o que vocês são.
Agora, olhem, com inteligência, quais são as suas relações.
Toda sutileza está aí.
As religiões os confinaram em um ser exterior que podia salvá-los, ao passo que esses Grandes Seres (e houve vários, mesmo os maiores dentre eles) apenas lhes disseram, em última análise, uma coisa (evidentemente transformada pelo próprio princípio da organização, qualquer que seja): que a sua essência era o Amor, que vocês não eram deste mundo, mas estavam sobre este mundo.
Não há ninguém a seguir.
Há apenas, eventualmente, que imitar esses Grandes Seres, não por imitação, mas por ressonância, de algum modo.
Todos esses Seres nunca expressaram mais nada, enquanto que as organizações, as religiões organizaram a Verdade final para a própria conveniência, a fim de manter relações de dependência, de confinamento.
A sociedade fez exatamente a mesma coisa, seja através de técnicas, através de regras e mesmo através de uma relação que, paradoxalmente, chama-se de amorosa.
O Amor não pode ser uma projeção do que quer que seja, para com o que quer que seja, já que o Amor é a própria Natureza do átomo, dos mundos, de toda Dimensão, além de toda apropriação, além de toda suposição.
Hoje, a Doação da Graça chama vocês, se bem que a palavra não seja exata.
Mas o conjunto das circunstâncias da Terra os chama.
O Som do Céu, o Som da Terra, os vulcões, apenas refletem o que acontece em vocês.
O apelo percebido, no Céu como na Terra, é o apelo da Doação da Graça, em vocês.
Há apenas o olhar projetado que vê um mundo.
As lutas que vocês observam sobre este mundo são apenas as suas próprias lutas.
Tudo o que vocês rejeitarem deste mundo apenas representaria, em última análise, o que vocês rejeitam em vocês mesmos.
A Doação da Graça é um apelo à Liberdade e à Autonomia, à sua Responsabilidade.
A Doação da Graça é, efetivamente, um deleite permanente.
Este deleite não tem o que fazer do deleite limitado, porque este é um deleite Ilimitado.
O deleite limitado pertence ao contexto amoroso ou afetivo.
Ele é obrigado, como eu disse, a repetir-se sem cessar para dar a impressão de se manter em uma permanência: seja as carícias prodigiosas, um olhar dado, um beijo dado, uma educação de um filho, tudo isso, e vocês sabem que para vivê-lo, tudo deve ser reproduzido, sem parar, a cada dia, a cada instante.
No início, é claro, com facilidade e evidência, e por vezes até o fim, mesmo, na própria evidência.
Mas isso é apenas a reprodução, isso é apenas a ilusão do amor.
O verdadeiro Amor, aquele que os faz considerar todos os seus Irmãos como parte integrante de vocês mesmos, porque essa é a estrita Verdade, que apenas pode se revelar (embora sempre estivesse aí) a partir do momento em que vocês aceitam ir além da pessoa.
Eu não falo, portanto, de qualquer narcisismo visando amar a pessoa, mas, sim, amar o que vocês São, além de toda pessoa e, então, de todo papel: é estar na relação real com a Verdade e vocês nada mais são do que a Verdade.
Vocês não são o que vocês projetam.
Vocês jamais serão o que vocês acreditam idealmente sustentar-se em uma permanência, mas vocês são, realmente, esta permanência.
Não há, portanto, nada a buscar no exterior porque não há exterior.
Hoje, a Doação da Graça vai levá-los, ou não, a viver (porque essa é sua Natureza) a Doação e a Graça.
Não a doação de um amor, não a doação de si, somente, mas muito mais: além de toda consciência, viver a natureza essencial e primordial do que vocês São.
Só o jogo da distância, da separação, do distanciamento, da pessoa, nos fez crer, a todos, que nós podemos perder alguma coisa.
E é esta mesma experiência que, muitas vezes, conduz à Eternidade.
Porque a dor da separação é tal, é tão intensa e indizível, que ela apenas pode resultar no Absoluto, rendendo Graças, de algum modo, à própria Graça, pondo fim, então, à toda Ilusão.
Naquele momento, vocês São o Amor.
O mesmo Amor nesta pessoa que vocês não são mais, no átomo, no Sol, no ser dito amado, como no ser chamado de inimigo.
Todas essas denominações não têm mais sentido porque não há, estritamente, mais nada a chamar que já não esteja presente no Absoluto.
Hoje, sobre este mundo, tudo isso está, eu diria, cada vez mais acessível e cada vez mais evidente.
Em outras palavras, não há outro Apocalipse senão este: enquanto a pessoa considera, de uma maneira ou de outra, um fim, ela se reconhece, então, finita, ela se reconhece, então, efêmera.
Aquele que vive esta relação final saiu definitivamente dos jogos de papeis, dos jogos de posse, dos jogos de atribuição de papeis ou de poderes.
Porque não há outro poder que o poder da Vida, que é Doação da Graça.
Onda da Vida.
Onda do Éter.
Onda da Eternidade.
Não há outro Casamento que aquele da sua Liberdade.
Não há caminho.
Não há território.
Não há limite.
Se a pessoa que vocês são não pode aceitar (eu bem digo não aceitar e não compreender, porque o que eu digo está inscrito além de qualquer compreensão, eu chamei isso de algo que vocês podem apreender em sua essência e não através dessas palavras), então, eu lhes diria, simplesmente, que isso É, desde toda a Eternidade, e não tem o que fazer da sua opinião, não tem o que fazer da sua posição, não tem o que fazer da sua adesão ou da sua negação.
Porque tudo isso não pode alterar, de forma alguma, o Absoluto.
Caso contrário, como ele seria o Absoluto e como ele seria o Último?
Eis o que, através da minha experiência de vida, e através do que eu poderia ser tentado a chamar do que eu represento hoje, eu podia dizer-lhes.
Eu penso que o tempo que me foi atribuído chega ao final.
Se nós tivermos tempo e se existir alguma interrogação referente, exclusivamente, ao que eu acabo de enunciar, então, eu irei escutá-los.
Nós não temos perguntas. Nós lhe agradecemos.
Eu proponho um instante a vocês.
Este instante não é dedicado ao acolhimento da Luz, nem mesmo da Onda da Vida, mas se dedica, simplesmente, a estarem atentos.
Um momento de meditação, sem objeto, sem suporte, sem pedido.
Apenas isso.
Essa é a minha maneira de render Graças à sua Presença, minha maneira de saudá-los e de dizer-lhes até breve.
Eu lhes direi quando isso cessar.
Agora.
... Compartilhamento da Doação da Graça ...
Até breve.
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Irmãos e Irmãs, permitam-me transmitir-lhes as minhas homenagens pela sua Presença.
Foi-me pedido, hoje, pela Assembleia dos Anciãos, com as minhas palavras, para dar-lhes uma série de elementos que podem permitir-lhes, seguindo-os, talvez, seguirem-se vocês mesmos, a fim de descobrir o que vocês São.
Eu tive a oportunidade de falar sobre a Liberdade, sobre a Autonomia, sobre o conhecido e o Desconhecido.
Na minha última vida encarnada, sobre esta Terra, eu vivenciei, muito jovem, um choque.
O choque que chega a abalar as próprias estruturas da vida em meio à pessoa e (frequentemente quando se trata de uma perda) uma perda vivenciada, é claro, como um drama.
Muitas vezes, nessas condições, há como uma sideração da própria vida: uma parada, um assombro.
Uma dor indizível que, repentinamente, de um único golpe, vai mudar o que eu denominaria sua relação com o mundo, sua relação com a vida e, de qualquer forma, sua relação com a vida.
Nos dias, nas semanas e nos meses que se seguiram ao choque que eu vivenciei (e que me é pessoal), ao meditar sobre o próprio sentido desse choque, do seu significado e da sua relação com a minha própria vida, de um golpe, de um único, o local onde eu estava (que eu olhava como uma forma de devaneio), esta paisagem, esta natureza maravilhosa que eu observava, subitamente, transformou-se.
Ela se tornou Vivente, como animada de um sopro outro do que me era dado a ver pelos meus olhos.
Tudo se animou, tudo se tornou (e eu não tenho palavra melhor) Vivente.
No momento anterior, o que eu achava bonito e majestoso foi, então, considerado como morto.
E, no entanto, eu tive que me render à evidência: o que eu observava estava sempre aí, mas possuía qualidades diferentes.
Minha introspecção, minha meditação de então, fez-me transportar, prioritariamente, não tanto no sentido da experiência, que é incomunicável, nem mesmo exprimível em palavras ou por qualquer arte que seja.
Esta experiência, que eu qualifiquei, em seguida, de indizível, não podia ser comunicada de qualquer forma.
Porque, o que se conhece, durante toda a vida (por exemplo, a maneira que vocês comem), vocês podem expressá-lo, mas ninguém pode comer no seu lugar, ninguém pode ver através dos seus olhos.
Entretanto, todo mundo vê e todo mundo come.
E mesmo se as circunstâncias desses atos podem tomar uma cor diferente para cada ser, trata-se, fundamentalmente, dos mesmos atos, das mesmas funções, para todo ser humano.
Mas aí, nisso que ocorreu, nisso que se desenrolou, existia um elemento estritamente desconhecido, que me fez sair, de algum modo, do conhecido.
E, no entanto, enquanto vivendo isso, pela qualidade de introspecção que era a minha, eu compreendi, de imediato, que, nunca, eu poderia compartilhar esta experiência transcendente.
Que, nunca, eu poderia, com palavras, compartilhar o que eu tinha vivenciado.
Então, eu percebi que a única coisa que era possível, naquele momento (graças a esta faculdade de introspecção), era descrever, de alguma forma, os meios que iam permitir ver além do que era visto, além do Véu, ir do que é conhecido a este Desconhecido.
E que porque isso era a consequência (para mim, como para todo ser que vive isso) de viver a Liberdade, a Autonomia e o que eu denominei, recentemente, a Responsabilidade.
Inicialmente, o que eu tinha vivenciado era completamente independente de qualquer referência a um passado, de qualquer referência à minha própria vivência anterior, de qualquer referência a uma mínima projeção, qualquer que seja, a um mínimo desejo.
No instante anterior, isso não estava aí.
No instante seguinte, isso estava aí.
E este instante seguinte radicalmente transformou o que eu era.
Houve, efetivamente, um antes e um depois.
Da mesma maneira que o trauma da perda enorme que eu vivenciei estava inscrito como um antes e um depois.
Um antes em que eu nada tinha perdido.
E um depois em que tinha o sentimento profundo da perda, do sofrimento, do luto.
Aí, do mesmo modo, saindo desse conhecido habitual, foi-me dado a viver (sem o procurar, é claro) algo que não tinha nada mais a ver com o campo de experiências habitual do ser humano, que isso seja no ordinário, como no espiritual.
O que foi mais notável é que, naquele momento, minha relação com o mundo, minha relação com os outros, foi irremediável e radicalmente transformada.
Tudo o que eu percebia, tudo o que eu vivia tinha uma tonalidade, uma cor, uma impregnação que não correspondia absolutamente com nada do que os sentidos podiam proporcionar, do que o intelecto podia proporcionar, ou do que as próprias emoções podiam proporcionar.
Eu estava, então, frente ao que eu nomeio, ainda hoje, este Desconhecido que, é claro, tornou-se a minha natureza, como ela está prestes a se tornar a de vocês.
Mas em toda a minha vida, por este choque inicial, eu compreendi e me apreendi e tentei transmitir, da melhor forma que eu podia, que este Indizível, que este Desconhecido, apenas podiam se manifestar e existir (enquanto estando sempre aí) a partir do momento em que o conhecido tivesse desaparecido na totalidade.
Apreendam-se bem de que não era questão de negar o que quer que seja, mas, sim, de viver algo diferente, sem buscá-lo, e eu analisei, então, as circunstâncias da inteligência da relação e eu tentei levar (na maioria das minhas entrevistas) a Consciência dos meus Irmãos e Irmãs no que podia representar, de algum modo, obstáculos na manifestação do que estava aí, desde toda Eternidade, desde todo tempo, mas que, simplesmente, mecanismos particulares, inscritos em meio à pessoa, impediam, literalmente, de ser vivenciado.
Eu me apreendi de que toda relação devia ser livre e de que toda relação que estava inscrita numa dominação, num poder, numa organização (mesmo a mais lógica: social, espiritual, familiar), jamais permitia viver isso.
De que enquanto existia a persistência de um conhecido, enquanto a pessoa mantinha esse conhecido (mesmo em seus aspectos os mais agradáveis, os mais atraentes, os mais amorosos, digamos), este Absoluto não podia penetrar ou não podia, de algum modo, deixar-se penetrar por este Desconhecido.
Eu me apreendi, também, de que a relação não tinha que ser rompida, que ser negada, que ser recusada, mas, sim, realmente (e não há palavra melhor), que ser transcendida.
Enquanto vocês estão fechados em uma relação, qualquer que seja, mesmo a mais bela, vocês não podem descobrir o Desconhecido.
Porque a relação, por essência, é sempre fundamentada em uma necessidade de confiança, em uma necessidade de amor, em uma necessidade de certezas.
Mas todas essas relações não são Livres.
Elas dão a impressão da liberdade, do substituto da liberdade, do substituto do amor, mas elas não irão lhes permitir, jamais (em sua realização a mais total, mesmo), viver o Desconhecido e viver a Liberdade.
Não há então, fundamentalmente, relação livre.
A única relação verdadeira é aquela que se estabelece muito além da pessoa, muito além da alma, muito além do Espírito, muito além de todo discurso podendo fazê-los crer na existência de relações entre almas, entre Espíritos, entre as Dimensões, ou entre vocês e seja com quem for.
Eu cheguei, naquele momento, a desfazer minha afiliação de qualquer organização.
Porque, a partir daquele instante, eu me apreendi de que nenhum movimento, nenhuma organização, nenhum grupo podia realizar isso, porque o conjunto disso não podia se inscrever em nada de conhecido, nada organizado, nada estruturado ou sistematizado.
O Desconhecido não pode se acomodar a nada de conhecido.
Enquanto houver o conhecido, há persistência, em meio a este mundo, desta pessoa, qualquer que seja a sensação, quaisquer que sejam as experiências, qualquer que seja ainda o lado agradável ou bonito.
O conhecido jamais conduz ao Desconhecido.
Então, é justamente algo que é preciso desfazer-se e é preciso se desfazer, já, de toda relação.
Apreendam-se bem de que eu não peço, por aí, nem os aconselho, de forma alguma, a romper ou anular qualquer relação, mas, bem mais, a transcendê-la, além de todo sentido de organização, além de todo sentido de propriedade ou de apropriação.
A Liberdade, a Autonomia, a Responsabilidade, o Si, apenas pode estabelecer-se a partir do momento em que vocês tenham interrompido, nos próprios mecanismos do seu pensamento, todos os apegos, a qualquer religião que seja, a qualquer pessoa que seja, a qualquer identidade que seja.
Vocês não podem pretender ser Livre sem se Liberar realmente.
Vocês não podem se reencontrar para estar no Desconhecido, estando no conhecido, qualquer que seja.
Quaisquer que sejam os nomes que possam dar diferentes correntes tradicionais e iniciáticas, mesmo em sua justeza de palavras, em nada poderá permitir-lhes viver o Desconhecido, enquanto vocês estiverem no conhecido.
Porque, por definição, sobre este mundo, tudo o que é conhecido de vocês pertence, necessariamente, a uma reprodução, a um efêmero, a algo que pertence a uma convenção, qualquer que seja.
Convenção que está inscrita, necessariamente, na dependência afetiva, social, familiar e que, jamais, irá permitir-lhes viver a Independência.
Os poetas têm dito: “seus filhos não são seus filhos”.
Essa é a estrita verdade.
Enquanto existir, em vocês, um sentido de propriedade, um sentido de apego, a quem quer que seja, a qualquer conceito que seja, vocês não podem pretender o Desconhecido, a Liberdade e, ainda menos, a Liberação.
Apreendam-se bem (e aí está todo o paradoxo ou, se o podemos dizer, a aparente dificuldade) de que não há, portanto, nada a rejeitar, nada a romper, exceto em vocês mesmos, ao nível do que vocês concebem, do que vocês creem, de tudo o que foi experimentado.
Nenhum Desconhecido pode se revelar enquanto vocês estiverem instalados no conhecido.
Nenhuma Liberdade pode aparecer enquanto vocês mesmos não estiverem Livre.
Ora, a experiência que eu vivenciei, este acesso ao que era Vivente, é a Liberdade.
Porque isso É, desde toda Eternidade, independentemente de qualquer circunstância, independentemente de qualquer olhar, independentemente de qualquer pessoa.
Eu fui convidado, então, a expressar-me longamente (sob forma de imagens, às vezes), tentando dizer e exprimir que jamais qualquer outro ser humano poderia fazê-los viver este Conhecido (porque isso é uma abordagem pessoal, além da pessoa), que não podia existir qualquer salvador exterior, que não podia existir qualquer opinião exterior a vocês mesmos e que, a partir do momento em que uma relação se estabelece (no conhecido, de casal, de mestre a discípulo), não pode ali haver Liberdade.
Eu então afirmei, e eu reafirmo, hoje, que não há qualquer guru, qualquer mestre, qualquer ser que possa conduzi-los à Liberdade e à Liberação.
Há apenas ressonâncias (em meio a uma relação a mais livre possível) que podem levá-los a reconsiderar o que vocês chamam de liberdade, de liberação, o que vocês chamam de conhecido.
Vocês podem, como diriam outros Anciãos, eliminar (sem rejeitar) da sua cabeça, tudo o que seja conhecido.
O Desconhecido não pode ali se encontrar.
Não há, portanto, solução de continuidade, e todo engano da pessoa está aqui: é crer que a Luz, impactando-se nas Estrelas, nas Coroas, vai preenchê-los e vai transformar alguma coisa em vocês.
É impossível.
Isso foi uma etapa.
Mas viver a Liberdade e a Liberação é abandonar muito mais que a pessoa.
É abandonar até mesmo a Luz que é vivenciada como exterior.
Ser Luz não é preencher-se de Luz.
Ser Livre não é evocar a Liberdade.
É, já, apreender-se do que ela não é.
Do mesmo modo, o Absoluto não pode ser compreendido.
Ele apenas pode ser aproximado através do que ele não é.
Assim como houve durante o meu choque (que é também o choque de cada um) um antes e um depois, há, efetivamente, uma Passagem.
Essa Passagem não pode ser decidida em meio ao conhecido.
Ela necessita, além do Abandono à Luz, de um Abandono do Si e da pessoa, na totalidade.
O que não é, no entanto, um suicídio ou o fato de negar o que quer que seja, mas, sim, estar em uma lucidez nova, aceitar que não pode haver qualquer autoridade, qualquer ser, qualquer guru, qualquer deus, qualquer circunstância, que possa levá-los ao que vocês São.
Mais uma vez, é apenas afastando da sua consciência tudo o que é consciente, todas as experiências que, em última análise, vocês irão superar até mesmo a consciência do Si.
Resultando no que nós poderíamos denominar, de diferentes modos, o Tudo, o Absoluto, “Eu e o Pai somos Um”, ou, ainda, o Brahman e o Parabrahman ou, se vocês preferirem, o fim do conhecido.
Existirá sempre, em meio a toda relação, uma salvaguarda.
Esta salvaguarda sempre é inscrita em relação a uma norma, a uma regra.
Eu afirmo, como eu afirmava durante a minha vida, que nenhuma regra, nenhuma forma, nenhum limite pode se manter no Ilimitado.
Nenhuma definição, nenhum conceito e nenhuma percepção sequer (habitual, sensorial) pode definir o que não se enquadra em qualquer definição.
E, no entanto, é daí que se tem a Verdade, a Eternidade e que se tem, exclusivamente, o que vocês São, o que nós Somos.
A Liberdade inscreve-se em uma relação totalmente nova, desvencilhada, é claro, de todo apego, de todo papel, de toda função mesmo, e, sobretudo, de toda vontade inerente à pessoa.
Não há pior obstáculo a esta Liberdade do que a ‘vontade de bem’, do que a vontade de organizar, de estruturar esta experiência.
Não há pior obstáculo ao Desconhecido do que o conhecido.
Não há maior resistência do que o que vocês creem ser em meio ao seu conhecido: pessoa, vida, experiência, história pessoal, lenda pessoal.
Tudo o que vocês mantêm, mantém-nos, de maneira inexorável e definitiva.
É preciso, então, aceitar, como dizia nosso Comandante (ndr: O.M. AÏVANHOV) largar, nada mais ter, encarar o nada do conhecido, para viver o pleno.
Vocês não podem ser preenchidos por qualquer consciência do que deve preenchê-los, ou ser o que vocês São.
A postura da relação (qualquer que seja esta relação) deve ser concebida como uma postura de Liberdade e de Liberação total.
O Amor é esta Liberdade.
O Amor é esta Liberação.
Ela não está em uma projeção do que quer que seja no exterior do ser, mesmo que isso seja atraente, mesmo que isso seja tranquilizador, mesmo que isso possa parecer satisfazê-los.
Reflitam: por que, mesmo em meio a uma relação usual de casal, haveria necessidade de recomeçar algo que iria satisfazê-los permanentemente (seja olhar-se, fazer amor)?
Qualquer que seja o ato que vocês empreendam, com um outro ou uma outra, há necessariamente uma reprodução, porque há necessidade, efetivamente, de preencher isto que está vazio em vocês.
Ora, vocês preenchem com algo que jamais irá preenchê-los.
Qualquer relação do conhecido, qualquer relação com um outro ser, jamais poderá preenchê-los, de maneira alguma, porque vocês já estão preenchidos.
Aí está o que poderia parecer como funesto ou triste.
Como é que (por exemplo, na paisagem que me foi revelada) poderia não estar ali, no instante anterior?
O que mudou foi a minha visão, além de toda percepção e da própria visão ocular.
Passar do conhecido ao Desconhecido não pode acontecer enquanto vocês mantêm alguma coisa do conhecido.
Como diziam alguns ensinamentos no passado: “se tu encontrares Buda, mata-o”.
O mestre serve apenas para isso: para ser morto.
Toda relação é fadada ao fracasso enquanto vocês permanecerem no conhecido, mesmo que ela satisfaça o conjunto da sua vida.
O que vai restar, no momento da partida?
O que me restou quando eu perdi, jovem, o que eu tinha de mais caro aos meus olhos: o nada, a aniquilação.
E é em meio a esta aniquilação que nasceu (enfim, eu o acreditei) o que estava aí, desde toda Eternidade.
Eu, então, de algum modo, transcendi o conhecido, atônito diante do Desconhecido desta morte que me havia tomado o que eu tinha de mais caro, para descobrir que, de fato, nenhuma relação, em meio ao conhecido, podia satisfazer coisa alguma.
Foi, então, naquele momento, minha responsabilidade, como isso é hoje, atrair sua atenção, sua consciência, de que nada do que lhes é consciente, nenhuma relação presente com um outro, ou mesmo no interior de vocês, nas diferentes partes da pessoa, nenhuma lógica, nenhum contexto de referências, nenhuma ação, pode levá-los ao Desconhecido.
A Ação da Graça, esse Casamento Místico apenas se realiza, em última análise, com nada mais do que o que poderíamos nomear ‘você mesmo’, em outro nível (o duplicado, se vocês preferirem).
É o momento em que o complexo que foi nomeado, eu creio, inferior (o corpo físico e seus envelopes sutis), casa-se com o complexo, se o podemos nomear assim, além do conhecido, no Desconhecido, além mesmo do corpo de Estado de Ser, além mesmo do Si.
Naturalmente, muitos seres humanos vivem hoje o acesso, eu o denominaria assim, ao Si: a realização do Si.
De maneira totalmente inesperada, de maneira totalmente feliz ou, aí também, por vezes, depois de um sofrimento.
Mas mesmo esse Si, qualquer que seja a leveza que ele proporcione, não é a Verdade.
A única Verdade é aquela que vocês não podem imaginar, conceber, perceber e nem mesmo sentir.
O Absoluto está além de toda percepção e de toda sensação e, sobretudo, além de toda projeção, de toda relação, porque todas as relações tornam-se não apego.
O Casamento Místico, como eu o vivenciei olhando essa paisagem, vai muito além da simples comunhão do que é vivenciado, mas os faz perceber a ausência total de distância entre o que vocês acreditavam ser anteriormente (uma pessoa) e a própria paisagem.
Eu dizia, durante a minha vida, àquele que me perguntava, sobre esta outra margem que eu não podia fazê-lo atravessar.
Somente ele é que podia constatar, por ele mesmo, o que era esta outra margem.
É o mesmo, hoje.
Nenhuma afirmação, nenhuma experiência em meio ao conhecido (mesmo através de um caminho Vibratório, energético, que vocês vivenciaram, ou não), pode levá-los a esta outra margem.
Porque existe, em meio ao que é chamado de vida sobre este mundo, em meio à pessoa, qualquer que seja, um princípio que sequer é questão de discutir a existência, que eu denominaria princípio de sobrevivência.
Este princípio de sobrevivência inscreve uma forma de perenidade ilusória nesse corpo.
Se a mão é colocada sobre alguma coisa que está quente, independentemente da sua decisão, a mão se retira para evitar a queimadura.
Esses mecanismos de sobrevivência são perfeitamente conhecidos.
Eles não são, então, o Desconhecido e eles absolutamente não conduzem ao Desconhecido já que são, ainda, a salvaguarda impedindo-os, de maneira muito lógica, de aceder e de Ser este Desconhecido.
A relação justa é uma relação que se torna impessoal e que o é, porque no Si, como no Absoluto, não há mais limite, não há mais papel, não há mais função, não há mais organização.
O outro não é visto como uma outra forma, mas, sim, como parte integrante, além de toda visão, deste Desconhecido que nós Somos.
Em todos os tempos, os seres renunciaram a este mundo, esperando encontrar o outro mundo.
Muito poucos ali chegaram.
Porque renunciar ao mundo é renunciar à vida.
Ora, vocês não podem renunciar à vida, mesmo em seus apegos, negando-a.
Vocês apenas podem transcendê-la, transcendendo, justamente, o que eu chamei de relação.
A Liberdade e a Verdade são um país ou um território sem qualquer caminho.
Obviamente, a pessoa que vocês são, que vocês creem ser, vai fazê-los crer, permanentemente, na existência de um caminho, comum, através dos seus filhos, do ser amado, através de um amigo.
Ora, não existe qualquer caminho para o Absoluto.
Ele está aí, desde toda Eternidade.
Como o que está aí, desde toda Eternidade, poderia ser buscado ou encontrado, já que ele já está aí?
Quando nós dizemos que vocês São a Eternidade, que vocês São a Graça, que vocês São a Doação da Graça, isso não é uma afirmação gratuita ou uma autossugestão, que, aliás, de nada serve, porque aqueles que não o vivem apenas podem vociferar sua contrariedade e seu ódio frente a isso.
Assim é o ego, mesmo repleto de Luz.
Vocês devem, se tal for o seu desejo, liberar-se totalmente de tudo o que é conhecido, conceber que não há caminho, em última análise, para aperceber-se de que não há território, de que não há país, de que não há pessoa e de que não há mundo.
Sem, no entanto, que isso seja uma rejeição seja do que for.
O Desconhecido não tem o que fazer do conhecido, mas ele o integra.
O Ilimitado não tem o que fazer do limitado e, no entanto, o limitado apenas pode estar contido no Ilimitado.
Vocês estão exatamente na mesma situação.
Vocês estão exatamente na mesma suposição e há apenas vocês que podem realizá-lo, aceitando que estritamente nada há a realizar.
Isso não é um paradoxo, nem uma oposição, ainda menos um antagonismo.
A única relação exata não pode ser estabelecida com uma das partes do Tudo, mas, sim, com o Tudo.
Ora, toda relação com o Tudo, com o Absoluto, com o Brahman, é apenas a realização incondicional deste estado, além de todo estado, do que está muito além mesmo da Consciência.
A Consciência, em última análise (qualquer que seja: limitada ou do Si), será apenas, sempre, a expressão de uma simples separação, mais ou menos pronunciada.
Vocês não podem estar separados, de forma alguma, do que vocês São.
Vocês não podem limitar o que é ilimitado.
Nenhuma experiência irá ali conduzi-los.
Não há, aliás, qualquer caminho e como eu disse, qualquer território e qualquer país.
Se, contudo, a pessoa que vocês são, se, contudo, o Si que vocês são, não pode aceitar, nem mesmo considerar o que eu digo, então, nenhuma importância, porque, aí também, nada há a projetar em um desejo qualquer de ser isso porque vocês o São, desde toda Eternidade.
Nada há, então, a desejar, assim como nada há a projetar, assim como nada há a ser.
Há apenas que se estabelecer, de algum modo, no que já está estabelecido.
Nenhuma vida, nenhum conhecido, poderia mesmo ser considerado sem ser sustentado, contido, pelo Amor, pelo Desconhecido.
Muitas vezes o ser humano fala do Amor.
Ele mesmo criou religiões, em nome do Amor, cujos atos têm sido a antítese do Amor.
Todo mundo conhece as relações amorosas, filiais, maternais, mesmo as mais ideais, que sempre terminam tragicamente.
Por quê?
Porque a morte, inelutável, faz desaparecer toda ligação.
Então, é claro, a alma que reencarna em outra pessoa vai, por desespero ou por amor projetado, manter essas ligações, essas relações, sob outros papeis, sob outras funções, sob outras perspectivas, mas isso não é a Liberdade e jamais irá conduzir à Liberação.
Portanto, mesmo o carma, o livre arbítrio, é uma heresia, uma criação pura da limitação, do confinamento.
O que vocês São não conhece nada de tudo isso, o que vocês São está além de tudo isso.
Não basta conscientizá-lo porque isso não pode ser conscientizado, nem realizado, porque, justamente, isso sempre esteve aí.
Aí onde se colocam, disseram alguns Anciãos, sua Intenção e sua Atenção, realiza-se a Consciência do que vocês são ou do que vocês creem ser.
No que se refere ao que foi nomeado a Onda da Vida e que eu prefiro chamar de Doação da Graça, não há estritamente nada a fazer.
Não há nada a desejar.
Não há, tampouco, nada a esperar.
Há justamente que deixar Ser o que É, desde toda Eternidade, sem qualquer intervenção da pessoa, sem qualquer intervenção da emoção, do mental, do julgamento ou de qualquer espiritualidade.
A relação (quando ela é apreendida além de tudo o que pode ser conhecido) irá liberá-los porque, em última análise, a única relação que pode permanecer e que é Verdade, está muito além da relação, tal como é compreendida.
Ela é Comunhão, Fusão, Dissolução.
Ela é este Êxtase ou esta Íntase muito particular, além do Samadhi, onde a própria identidade (se ferozmente mantida na Ilusão) desaparece.
E no desaparecimento da Ilusão da identidade, há estabelecimento no Absoluto, onde, efetivamente (e concretamente, não por projeção, por desejo ou suposição) tudo é Um, porque na mesma Graça, na mesma Onda, na mesma Liberdade.
Apreendam-se bem, também, de que vocês não podem eliminar qualquer relação existente sobre este mundo, mas mudar o olhar, se servir da Inteligência para compreender que tudo está indissoluvelmente conectado.
Mas não conectado em uma relação de posse ou de amor, qualquer que seja, mas, sim, como a própria expressão da Natureza do Amor.
Eis ao que a Terra se desperta e se revela.
Eis ao que a Doação da Graça convida vocês: a Casar-se.
Mas não ao casamento com esse corpo ou com um outro corpo ou com uma outra alma ou com um outro Espírito.
Este Casamento com o Absoluto restitui vocês ao Absoluto.
Restitui vocês à única Verdade: aquela que não está inscrita no tempo e no espaço, aquela que não está inscrita em um caminho ou em um país ou em um território e, ainda menos, em qualquer organização, qualquer que seja.
Enquanto vocês pensarem que devem pertencer a alguém, a um grupo social, a um grupo humano, vocês não são Livres.
Ser humano é, justamente, escapar, sem renegar, a todo condicionamento, a toda percepção, a toda concepção, a refutar tudo o que é conhecido.
Não há outro caminho.
Não há outra possibilidade, doravante, senão Ser o que vocês São, aí onde vocês estão.
Esta Doação da Graça representa o momento final em que, como dizia A FONTE, o Juramento e a Promessa são revelados.
Eles sempre existiram.
Aí onde vocês se têm é o que vocês são.
Agora, olhem, com inteligência, quais são as suas relações.
Toda sutileza está aí.
As religiões os confinaram em um ser exterior que podia salvá-los, ao passo que esses Grandes Seres (e houve vários, mesmo os maiores dentre eles) apenas lhes disseram, em última análise, uma coisa (evidentemente transformada pelo próprio princípio da organização, qualquer que seja): que a sua essência era o Amor, que vocês não eram deste mundo, mas estavam sobre este mundo.
Não há ninguém a seguir.
Há apenas, eventualmente, que imitar esses Grandes Seres, não por imitação, mas por ressonância, de algum modo.
Todos esses Seres nunca expressaram mais nada, enquanto que as organizações, as religiões organizaram a Verdade final para a própria conveniência, a fim de manter relações de dependência, de confinamento.
A sociedade fez exatamente a mesma coisa, seja através de técnicas, através de regras e mesmo através de uma relação que, paradoxalmente, chama-se de amorosa.
O Amor não pode ser uma projeção do que quer que seja, para com o que quer que seja, já que o Amor é a própria Natureza do átomo, dos mundos, de toda Dimensão, além de toda apropriação, além de toda suposição.
Hoje, a Doação da Graça chama vocês, se bem que a palavra não seja exata.
Mas o conjunto das circunstâncias da Terra os chama.
O Som do Céu, o Som da Terra, os vulcões, apenas refletem o que acontece em vocês.
O apelo percebido, no Céu como na Terra, é o apelo da Doação da Graça, em vocês.
Há apenas o olhar projetado que vê um mundo.
As lutas que vocês observam sobre este mundo são apenas as suas próprias lutas.
Tudo o que vocês rejeitarem deste mundo apenas representaria, em última análise, o que vocês rejeitam em vocês mesmos.
A Doação da Graça é um apelo à Liberdade e à Autonomia, à sua Responsabilidade.
A Doação da Graça é, efetivamente, um deleite permanente.
Este deleite não tem o que fazer do deleite limitado, porque este é um deleite Ilimitado.
O deleite limitado pertence ao contexto amoroso ou afetivo.
Ele é obrigado, como eu disse, a repetir-se sem cessar para dar a impressão de se manter em uma permanência: seja as carícias prodigiosas, um olhar dado, um beijo dado, uma educação de um filho, tudo isso, e vocês sabem que para vivê-lo, tudo deve ser reproduzido, sem parar, a cada dia, a cada instante.
No início, é claro, com facilidade e evidência, e por vezes até o fim, mesmo, na própria evidência.
Mas isso é apenas a reprodução, isso é apenas a ilusão do amor.
O verdadeiro Amor, aquele que os faz considerar todos os seus Irmãos como parte integrante de vocês mesmos, porque essa é a estrita Verdade, que apenas pode se revelar (embora sempre estivesse aí) a partir do momento em que vocês aceitam ir além da pessoa.
Eu não falo, portanto, de qualquer narcisismo visando amar a pessoa, mas, sim, amar o que vocês São, além de toda pessoa e, então, de todo papel: é estar na relação real com a Verdade e vocês nada mais são do que a Verdade.
Vocês não são o que vocês projetam.
Vocês jamais serão o que vocês acreditam idealmente sustentar-se em uma permanência, mas vocês são, realmente, esta permanência.
Não há, portanto, nada a buscar no exterior porque não há exterior.
Hoje, a Doação da Graça vai levá-los, ou não, a viver (porque essa é sua Natureza) a Doação e a Graça.
Não a doação de um amor, não a doação de si, somente, mas muito mais: além de toda consciência, viver a natureza essencial e primordial do que vocês São.
Só o jogo da distância, da separação, do distanciamento, da pessoa, nos fez crer, a todos, que nós podemos perder alguma coisa.
E é esta mesma experiência que, muitas vezes, conduz à Eternidade.
Porque a dor da separação é tal, é tão intensa e indizível, que ela apenas pode resultar no Absoluto, rendendo Graças, de algum modo, à própria Graça, pondo fim, então, à toda Ilusão.
Naquele momento, vocês São o Amor.
O mesmo Amor nesta pessoa que vocês não são mais, no átomo, no Sol, no ser dito amado, como no ser chamado de inimigo.
Todas essas denominações não têm mais sentido porque não há, estritamente, mais nada a chamar que já não esteja presente no Absoluto.
Hoje, sobre este mundo, tudo isso está, eu diria, cada vez mais acessível e cada vez mais evidente.
Em outras palavras, não há outro Apocalipse senão este: enquanto a pessoa considera, de uma maneira ou de outra, um fim, ela se reconhece, então, finita, ela se reconhece, então, efêmera.
Aquele que vive esta relação final saiu definitivamente dos jogos de papeis, dos jogos de posse, dos jogos de atribuição de papeis ou de poderes.
Porque não há outro poder que o poder da Vida, que é Doação da Graça.
Onda da Vida.
Onda do Éter.
Onda da Eternidade.
Não há outro Casamento que aquele da sua Liberdade.
Não há caminho.
Não há território.
Não há limite.
Se a pessoa que vocês são não pode aceitar (eu bem digo não aceitar e não compreender, porque o que eu digo está inscrito além de qualquer compreensão, eu chamei isso de algo que vocês podem apreender em sua essência e não através dessas palavras), então, eu lhes diria, simplesmente, que isso É, desde toda a Eternidade, e não tem o que fazer da sua opinião, não tem o que fazer da sua posição, não tem o que fazer da sua adesão ou da sua negação.
Porque tudo isso não pode alterar, de forma alguma, o Absoluto.
Caso contrário, como ele seria o Absoluto e como ele seria o Último?
Eis o que, através da minha experiência de vida, e através do que eu poderia ser tentado a chamar do que eu represento hoje, eu podia dizer-lhes.
Eu penso que o tempo que me foi atribuído chega ao final.
Se nós tivermos tempo e se existir alguma interrogação referente, exclusivamente, ao que eu acabo de enunciar, então, eu irei escutá-los.
Nós não temos perguntas. Nós lhe agradecemos.
Eu proponho um instante a vocês.
Este instante não é dedicado ao acolhimento da Luz, nem mesmo da Onda da Vida, mas se dedica, simplesmente, a estarem atentos.
Um momento de meditação, sem objeto, sem suporte, sem pedido.
Apenas isso.
Essa é a minha maneira de render Graças à sua Presença, minha maneira de saudá-los e de dizer-lhes até breve.
Eu lhes direi quando isso cessar.
Agora.
... Compartilhamento da Doação da Graça ...
Até breve.
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Mensagem
do Amado IRMÂO K no site francês:
http://www.autresdimensions.com/article.php?produit=1384
17 de março de 2012
(Publicado em 18 de março de 2012)
Tradução para o português: Zulma Peixinho
http://portaldosanjos.ning.com
http://minhamestria.blogspot.com/
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