Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.

Jalal al-Din Husain Rumi - Poema Sufi

Faltam-te pés para viajar?

Viaja dentro de ti mesmo,

E reflete, como a mina de rubis,

Os raios de sol para fora de ti.

A viagem conduzirá a teu ser,

transmutará teu pó em ouro puro.

Morgenstern?! Ao final do Blog!


quarta-feira, 6 de junho de 2012

BIDI 1 - parte B - 3 de junho de 2012 - Autres Dimensions

(

(foto de alpinistas pendurados na parede de um abismo montanhoso "agarrados" por um "fio" a suas "barraquinhas alojamento"... ahahah.. nenhuma montanha pára o Amor... é soltar o "fio" e abondonar a Luz!)

Pergunta: Como posso eu refutar o medo de não saber formular e fazer uma pergunta?
A pergunta é uma interrogação: toda a questão, aquela que tu me podes colocar, ou não importa a quem. Quando tu te colocas a questão de saber se chove, tu olhas pela janela ou tu vais ver o céu. O problema é que se tu te colocas uma questão do Absoluto, tu não podes ter resposta.

O princípio é: «tu és o que tu procuras». O que quer dizer, mais uma vez, o medo? O medo não é senão a falta, levada ao extremo. E todos os medos (como eu o disse) nascem no mito da morte.

É muito fácil dizer que o ciclo da vida e da morte faz parte da vida. Neste caso eu te respondo: onde estás tu quando estás morto já que não estás mais na vida, tal como tu o definiste? A consciência desse corpo, do eu, como do Si, desaparece. Será que tu vais desaparecer? Sim. O medo está aí.

O medo de colocar uma questão (ou de não a saber colocar) não está destinado senão a te dar ainda mais medo.

Enquanto tu colocares uma identidade (ou uma não-identidade) sobre o medo, tu consideras que o medo é a tua vida. Pouco importa saber se o medo vem disto ou daquilo, já que, definitivamente, todo o medo está ligado e está justificado pelo efêmero.

Quando tu dormes, sem sonho e sem pesadelo, tu tens medo? O que é que tem medo?

Enquanto tu alimentares o medo (de não saber, de viver o que quer seja de desagradável), tu não podes ser Absoluto (que já aí está). Pode mesmo dizer-se que o ser só é suportado pelo medo. Porque o ser que é suportado pelo Amor, porque ele É, é Absoluto.

Aí também (mais uma vez), o que faz falta é a perda e o medo. A perda e o medo inscritos no limitado. Isso quer dizer o quê? Que tu estás identificado com o teu saber, com a tua pessoa. Tu estás, portanto, ligado ao efêmero. Aí vem o medo. Aí está a origem inicial e final do medo.

Ora, a única coisa à qual tu não podes estar ligado é ao que tu És, na Verdade. É o apego à pessoa (que não é o que tu És) que inicializa e mantém o medo.

O medo é uma secreção do corpo e os vossos sábios os sabem: há hormônios do medo, como há hormônios da alegria. Mas será que tu és uma secreção desse corpo? Não. Tu estás, simplesmente, identificado com ele. Por quê? Por causa do medo.

O medo gera o medo. Não há nenhum meio para sair disso. Tu podes colocar-lhe o bálsamo (acalmando) do Si. Tu podes colocar-lhe o bálsamo (acalmando) do sono ou da química, para lutar contra o excesso ou a insuficiência, nesse corpo. Mas tu não és nem o excesso, nem a insuficiência, de um ou do outro.

Imagina (porque é a Verdade) que o medo é segregado pelo corpo. O medo tem um odor, além disso: há a química, lá dentro. Mas será que tu és essa química? Não. Simplesmente a tua consciência se identificou com isso.

E tu me vais responder que, quando tu vives o medo, tu tens medo. Ou quando tu vives a fadiga, tu estás fatigado. Ou quando tu vives a morte, tu vives a morte. Mas tu não podes morrer. É esse corpo que morre.

Enquanto vocês tiverem medo da morte, vocês têm medo de viver. Enquanto vocês tiverem medo de viver, vocês têm medo da morte.

Porque vocês não sabem o que há depois do efêmero. Mas vocês não o podem saber, de maneira nenhuma, em nenhuma experiência, mesmo no reencontro com a Luz. Isso não vos pode trazer senão boas lembranças, bálsamos calmantes para o sofrimento e o medo, substituindo a secreção do medo pela secreção da paz ou da alegria. Mas a Morada da Paz Suprema não está inscrita na química. É o olhar que muda.

Aquele que tem medo inscreveu a sua crença no efêmero, qualquer que seja esse medo, qualquer que seja o efêmero que é vivido.

Vocês não podem encontrar nenhum contentamento definitivo fora do que vocês São, verdadeiramente. Porque todas as alegrias, todas as penas, não duram senão um tempo. Todos os seres humanos o sabem. Mesmo os grandes seres que viveram a Morada da Paz Suprema (e vivendo, portanto, o Absoluto, na forma) passaram por estas etapas, porque isso faz parte da Ilusão deste mundo.

Tu não podes mostrar a Ilusão deste mundo. Tu não podes mostrar a Ilusão desse corpo porque se lhe batemos, ele fica doente, e a consciência vive isso. Tu não podes senão refutá-lo. Refutar não é mostrar. Refutar não é opor-se e ainda menos (como eu já o disse) negar. É mudar de olhar, de ponto de vista.

Vocês não são nem o que sofre, nem o que está contente, nem o Si, nem o eu. Se vocês aceitarem isso, vocês o vivem. Nenhum medo pode emergir. E mesmo se ele emergir, ele não tem controle.

Mas enquanto vocês lutarem, enquanto vocês se opuserem ao que quer que seja, na Ilusão, vocês mantêm a Ilusão. Quando vocês dormem a Ilusão não existe mais. É aí que está o problema. O medo é um estímulo que te mantem na Ilusão. Porque, para aquele que está na ilusão, a ilusão faz menos medo que o Absoluto. Além disso, para ele, o Absoluto não existe. Ou então, ele o contempla num tempo futuro, como um esforço a prestar, qualquer coisa que está longe, no tempo como no espaço.

Isso não faz senão assinar o vínculo formal ao saco de comida ou ao saco de pensamentos. É a mesma coisa, mesmo se tu não o vês. Aquele que disse: «eu penso portanto eu sou» não pode penetrar o não-ser, não pode abandonar o «eu sou». Ele só pode refiná-lo e construi-lo.
Mas quanto mais o refinar e mais o construir, mais ele próprio se confinará, no seu próprio isolamento, no seu próprio medo, nas próprias salvaguardas, nos seus próprios limites.

Enquanto ele tiver limite, enquanto ele tiver salvaguarda, ele não tem Liberdade. E, no entanto, vocês reivindicam todos a liberdade. Mas vocês têm medo da Liberdade, porque é o que vocês São. Só a consciência vos impede de o ver.

Não é qualquer coisa para consciencializar, mas é qualquer coisa para fazer cessar. É exatamente o inverso do que vos quer fazer crer na pessoa que vocês creem ser (este saco de comida, este saco de pensamentos).

Lembrem-se: nenhum saco, mesmo o mais perfeito, é Absoluto. Porque um saco é um limite entre o que está dentro e o que está fora. Portanto, enquanto vocês considerarem que vocês são um saco, isso quer dizer que vocês consideram que há um dentro e um fora. E enquanto vocês considerarem isso, o medo está lá. É uma secreção do saco.

Vocês não são o saco. Vocês não são, também, o que constitui o saco. Vocês não são, também, todos os sacos. O Absoluto não conhece o limite. Não, portanto, saco. Mas deixa tranquilo esse saco, não te ocupes dele, deixa-o viver o que ele tem a viver, quer isso seja no trabalho, no amor ou no que quer que seja. E tu perceberás que, se tu o deixares viver, sozinho, a tua vida se tornará maravilhosa e o Absoluto estará aí.

É justamente a implicação da própria pessoa (ou do próprio Si) que envolve o saco e que torna esse saco medroso.

Tudo o que vocês chamam o controle, a matriz, é ausência de Liberdade. É um constrangimento. Então, vocês se vão defender dizendo que vocês estão encarnados e que é preciso estabelecer regras. Mas as regras são boas para o saco, para os pensamentos, para a moral, mas não para o que vocês São. A não ser que tu consideres que te é qualquer coisa de moral.

Tu não és mais a moral que o medo. Tu não és mais esta vida que se vive, esta morte que se vive, este nascimento que se viveu. É um concurso de circunstâncias. Quer tu o chames cármico ou evolutivo, é falso. Sai de tudo o que te sobrecarrega e tu verás que o medo não existe noutro lugar senão no que te sobrecarrega.

O saco não é culpado (nem dos alimentos, nem dos pensamentos). Ele está aí e é isso. Mas tu não Estás aí. Descobre onde tu Estás (fora do tempo) e tu verás que esse saco de comida e de pensamentos se portará maravilhosamente. Quer ele viva ou não.

Enquanto tu permaneceres tributário dos afetos, dos medos, das perdas ou dos ganhos, é a mesma coisa. É ilusório.

O ser humano, de uma maneira geral, quer por a Eternidade no efêmero. Mas é falso. É o efêmero que está na Eternidade. O Absoluto contém o efêmero, mas nenhum efêmero pode conter o Absoluto. São as matemáticas elementares. Tu não podes ser o centro e a periferia. Tu não podes ser o movimento e o imóvel. Salvo se tu te tornares o centro e expandires esse centro por todo o lado, já que é o mesmo centro.

Quando eu vos dizia (ou quando vos diziam, sobretudo agora) para permanecer tranquilos, isso não queria dizer ficar sentado num canto e nada fazer. É para permanecer tranquilo nos pensamentos, não dar peso e lugar, nem ao medo, nem às experiências, nem ao que quer que seja.

Vocês querem ser a Morada da Paz Suprema que vocês São já e vocês fazem tudo para se afastarem disso. A Morada da Paz Suprema não tem o que fazer com o que vocês fazem ou com o que vocês creem ser. Ele é já o que vocês São. Vocês São isso. Vocês São o centro. Vocês não são o centro do mundo: sem isso, é o eu. Vocês também não são o centro do coração: sem isso, é o Si. Mas vocês São todos os centros, não somente esses dois.

O que é que vos limita? O saco. Mas vocês não são esse saco, nem as ideias, nem os pensamentos, nem a comida. Aceitem isso porque é a Verdade. Não é uma crença, é justamente o fim de todas as crenças.

Parem de crer. Quando tu me dizes: «eu tenho medo», mostra-me o teu medo. És capaz de me mostrar? Quando tu dizes: «eu sou este corpo», eu vejo esse corpo mas prova-me que tu és esse corpo. É uma crença, uma experiência, mas não é a Verdade.

Se tu te livrares desse peso, mesmo se isso te parecer absurdo (mas, claro, que o ego vai achar isso absurdo e o Si também), mas se tu entras naquilo que tu denominas absurdo, tu te descobrirás Absoluto. Porque, lembra-te que, para o conhecido (para a pessoa como para o indivíduo), o Absoluto é absurdo. Mas, evidentemente, deste ponto de vista, sim. Muda o ponto de vista e tu viverás o que tu És.

Pergunta: De ontem para hoje, a vida que eu levava e que era aquela que eu sempre desejei, me pareceu vazia de sentido, como se fosse de outro. Hoje não me reconheço mais, nem nas escolhas que eu fiz, nem naquelas que se apresentam a mim. Que fazer?

Justamente: nada fazer. Não é preciso nenhuma solução, já que tu encontraste a solução. Se me posso exprimir assim, tu estás a cavalo entre o jogo do Si e do Absoluto.

Certamente, como tu o sabes, não há passagem, nem do eu, nem do Si, para o Absoluto. Mas ser Absoluto, é quando o eu e o Si são absurdos. É exatamente o que tu vives. Portanto, eu te felicito e tu deves felicitar-te. Isso prova, simplesmente, que o eu não quer mais jogar. Isso prova que o Si, que era o objeto de todas as atenções, ele também, se dissolve.

Sobretudo, não peça nada. Não projetes nada. Tu estás no bom caminho, o que te diz que não há caminho. Não escutes à volta nenhuma voz, mesmo a minha. Porque tu estás aí.

Vai aos limites do que te parecer justamente absurdo. O Absoluto está lá.

O que se passa (e o que tu vives) foi chamado a dissolução da alma (ou a consumação da alma) que não está mais virada para a Ilusão, nem para a experiência, mas que volta para o Espírito.
Vocês têm aquela que foi uma grande dama, que vos falou disso (Ma Ananda Moyi) numerosas vezes. Não há outra forma de desaparecer e de aniquilar.

O desaparecimento não é a morte. Desaparecer é sair do parecer. É, enfim, ser claro, não parar mais nada, não desejar mais nada. Não é a morte do desejo, não é o desinteresse, mas é a Verdade. É o lugar fora do tempo (o centro como todos os centros) onde se encontram todos os contentamentos.

Então, certamente, do ponto de vista do que está limitado, isso pode parecer-te perturbador, desesperante, vazio. Mas, se tu fores ao limite, é pleno, é o Absoluto, é isso. Há apenas, aí também, a percepção do observador que observa que tudo o que fazia a tua vida não existe mais.

Mas como eu disse: tu não és a tua vida, inscrita entre o nascimento e a morte. É preciso por fim ao que é conhecido, a tudo o que é conhecido para, enfim, ser, para além do eu sou, na não-consciência que eu chamei a-consciência, que não é a inconsciência.

Portanto, sobretudo, não faças nada, não mudes nada. Permanece tranquilo. Porque à força de observar esse nada (como tu o observas), o Absoluto está aí. Não há nada mais simples. Desde que isso vos pareça complicado, é o eu que intervém, a pequena pessoa, o saco. Permanece aí onde tu estás e deixa se desenrolar o que se desenrola.

Se tu aceitares isso, sem te implicares, sem indiferença, sem desejo do que quer que seja e se fizeres mesmo parar o jogo do observador, tu sairás do teatro. É a única condição possível para viver e Ser a Morada da Paz Suprema, aqui como em qualquer lugar.

Tu terás vencido as tuas Trevas, que no entanto tu chamavas as tuas Luzes, que partiram. Não te esqueças que tu estás invertido, sobre este mundo: o que vocês chamam vazio, está pleno e o que vocês chamam matéria, está vazio. Os vossos sábios o sabem. Tu, tu tens a chance de o viver.

Então, sobretudo, não procures saber, porque o saber é uma projeção. O que tu vives porá fim à experiência e, portanto, à consciência limitada. Não é possível nenhuma dúvida sobre isso. E se vocês se interrogarem a si mesmos, uns e outros, vocês perceberão que é o caso para muitos entre vós, que trabalharam para o Si.

Aí também, cada vez mais, o que há a apreender não é um saber, nem uma compreensão, nem uma experiência, nem o eu, nem o Si mas, simplesmente: mudem o ponto de vista. Aceitem o aparente absurdo da coisa para descobrir o verdadeiro sentido, o mesmo é dizer, a Essência (e não o sentido, em duas palavras). Não há nenhum sentido.

Os sentidos vos enganam. Apenas a Essência (numa palavra) é a solução. E enquanto houver sentido, não há Essência. Enquanto vocês quiserem dar sentido, uma lógica, à vossa vida, às vossas experiências, ao vosso Si, vocês não estão prontos para deixar ir, vocês se agarram ao efêmero.

Portanto, o que tu vives (ou antes o que tu não vives) é exatamente isso: o que tu És. Então, claro, a personalidade, o Si devem fazer o luto, porque é a morte do efêmero. E isso pode fazer medo ou, em todo o caso, interrogar. Se tu ultrapassares o medo ou a interrogação, tu constatarás rapidamente que tu És a Morada da Paz Suprema. Está aí. Tu És isso.

Mais uma vez, não procures compreender, agora. Tu terás todo o tempo para refletir e tu compreenderás então que não há nada a refletir. Há apenas que ceder ao que morre, não o alimentar, não procurar saber.

Então, dito de forma poética, diremos: «tornem-se novamente como uma criança». Mas uma criança, é ainda um saco. Vão para além da criança, antes do saco. Tu Estás aí.

Pergunta: Uma fragilidade me faz passar do riso, da ligeireza, à densidade, aos pensamentos obsessivos contínuos, mesmo sem o consciencializar. Então, eu sou incapaz de amar e ser amado, de me centrar e mesmo de refutar. Como sair deste inferno?
Mas, o inferno és tu, no que tu crês ser. Não há outro inferno. Reflete.

Amar ou ser amada é já considerar que há uma falta, já que tu És Amor. Projetar o amor é se afastar de Ser Amor. Porque aquele que É Amor, absolutamente, não tem necessidade de decidir amar ou de procurar amar, ou mesmo de ser amado. Uma vez que esta é a sua Essência.

Há, atrás da tua pergunta, a culpabilidade. O efêmero oscila: tu não podes encontrar equilíbrio, de maneira nenhuma, de forma durável, no seio do efêmero.

O problema é o narcisismo porque, fundamentalmente, esse inferno que tu descreves está ligado ao teu próprio narcisismo, à necessidade de voltar a si mesmo, no eu. É o centro do umbigo. É procurar as causas dos sofrimentos, das oscilações, dos humores. Mas, fazendo assim, tu manténs a Ilusão de não te achares digna de amar e ser amada. Mas tu não tens que ser digna (ou indigna) já que tu És Amor.

Enquanto tu procurares o amor no ato de amar, na necessidade de amar (ou na necessidade de ser amada) tu não fazes senão negar a tua própria natureza.

Todos os seres humanos reivindicam agir, no mínimo uma vez nas suas vidas, por amor, qualquer que seja a expressão desse amor (sexual, filial, passional, espiritual).

Enquanto tu procurares, haverá falta
. Se tu não procurares mais, a falta deixa de existir.

Procurar o amor é como pedir a uma maçã para procurar uma semente. Mas a semente está dentro dela.


Tu não podes procurar, no exterior, uma satisfação interior, se não for para ficar e permanecer na Dualidade e na alternância prazer/desprazer, em qualquer amor que seja (sexual, passional, filial). Tudo isso não são senão amores humanos que não refletem senão a falta de amor do que vocês realmente São. Porque o vosso olhar não é bom.

Tudo isso vem das crenças, de todas as crenças, quaisquer que sejam, de todas as memórias (tanto as vossas como as dos outros), quaisquer que sejam. Mas vocês não são um ser de memória ou de crenças. Vocês São Absoluto. Vocês São Amor.

Como é que o que é ilusório (Maya) poderia trazer uma qualquer satisfação que fosse durável? Porque mesmo a satisfação mais durável se desligará com a tua própria morte, desse corpo, desse corpo de comida.

O ego se crê, em permanência, imortal. Em todos os amores que existem, ele os quer infinitos e eternos, para além da morte. Mas nenhum amor, vivido aqui, é o Amor. Todo o amor (mesmo o mais desinteressado, mesmo o mais espiritual) não é senão a tradução da falta de reconhecimento do que vocês São: Amor.

Como o medo, como o narcisismo, como o inferno, que não são senão não-reconhecimentos da vossa natureza, da vossa Essência.

Vocês colocam peso onde não existira nenhum peso. O Amor não é uma responsabilidade. O Amor não tem que ser justificado e não é justificável. Ele não tem que ser procurado ou encontrado. Nem há mesmo que se colocar a questão da sua manifestação, ou da sua ausência, ou da sua presença. Porque é o que vocês São.

É o ego que queria ser Amor. Mas ele não poderá jamais sê-lo já que o ego está construído sobre a falta de Amor, sobre o medo. Portanto, tu não podes permanecer no teu umbigo e reivindicar o Amor.

O único verdadeiro Amor é aquele onde vocês desaparecem, enquanto pessoa, enquanto indivíduo, enquanto consciência, enquanto procura. Se vocês pudessem parar tudo isso, com um golpe de varinha, e permanecer tranquilos, vocês constatariam instantaneamente (como eu já o disse) que vocês não são nem o ator, nem a cena do teatro, nem o espectador, nem o teatro. Vocês desempenham um desses papéis e vocês acreditam completamente nele, mesmo sabendo, pertinentemente, que todo o papel tem um fim, como esse saco.

Então, podemos falar da alma, do Espírito. Mostrem-nos. A única verdade é o Amor, Morada da Paz Suprema, Absoluto, Eterno, não-efêmero, não-eu, não-Si.

Enquanto houver reivindicação sobre a pessoa, isso quer dizer, simplesmente, que vocês estão instalados na pessoa. Se não houver pessoa, a pessoa não pode ter o mínimo problema. É impossível.

Dando um outro exemplo: é como se tu me dissesses: «eu não quero mais estar no rés-do-chão, mas eu quero estar no 4º andar do imóvel», mas tu persistes em permanecer no rés-do-chão, sem querer mover-te para o 4º. A expressão que vocês poderiam empregar é: querer um e o outro. Vocês não podem querer, ao mesmo tempo, o efêmero e Ser Absoluto.

Lembrem-se: o efêmero não pode conter o Absoluto. O Absoluto contém o efêmero. É de tal modo simples que o ego jamais o aceitará, que o Si, também, jamais o aceitará. Porque eles vos querem fazer passar o efêmero por Eterno.

Assim, mesmo se isso é difícil de entender para a pessoa: tu não és essa pessoa. Mas enquanto tu permaneceres na pessoa, tu permaneceres no narcisismo, que é sofrimento ou, no melhor, alternância entre sofrimento e satisfação.

Ora, toda a satisfação apela à sua reprodução (em todos os sentidos do termo, reprodução): em ti, pelos medos que vão e voltam, mesmo pela necessidade de se reproduzir, para esperar se encontrar numa continuidade efêmera. Toda a pessoa está inscrita nesta necessidade de reprodução. Todo o saco de comida não pode existir senão por este princípio de reprodução. É justamente disto que é preciso tomar consciência e se extrair. E depois, se desembaraçar, também, da consciência que lhe pertenceu.

Porque quanto mais escavarem (esperando encontrar a Luz), mais vocês se afundam nas Trevas. Eu poderia chamar isso de psicologia de saco. E é a Verdade.

Procurem sem procurar. Parem e vocês avançarão. É preciso se desembaraçarem de tudo o que chega à consciência.

Então, eu imagino que a pessoa confinada vai querer se desembaraçar do que a faz sofrer. Mas ela não chega a compreender como ela deve também se desembaraçar do que a faz feliz. Isso não quer dizer sair de uma relação mas sim, aí também, mudar de ponto de vista.

Quando me dirijo assim a vocês, a pessoa pode compreender (mal) que é preciso se afastar de uma profissão, de um marido, de uma mulher, de uma relação. Mas eu nunca disse isso. É o que vocês entendem, ao nível da pessoa. E vocês o entendem sempre assim, enquanto vocês estiverem instalados na pessoa.

Aceitem não ser ninguém e vocês verão. Mas a partir do instante em que vocês empreendem uma ação para não serem ninguém, suprimindo isto ou aquilo, vocês não apreenderam nada.

Porque eu não me dirijo necessariamente à parte que entende as minhas palavras, num primeiro tempo. E é por isso que eu vos digo, de cada vez, para terem tempo para compreender.

Se tu não compreenderes nada, agora, tanto melhor, porque eu me dirijo ao que está para além da compreensão.

Eu não me dirijo à pessoa que escuta, mas àquela que entende.




Mensagem de BIDI no site francês:
http://www.autresdimensions.com/article.php?produit=1470
03 de junho de 2012
(Publicado em 04 de junho de 2012)
Tradução para o português: Cristina Marques e António Teixeira
http://minhamestria.blogspot.com/

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