I- "O pensamento deve existir para nossas vidas funcionarem. Mas
internamente, psicologicamente como o pensamento gera dor, sofrimento e este
constante impulso para o prazer – trazendo suas próprias frustrações, desapontamentos,
raiva, ciúme e inveja – o pensamento não tem absolutamente espaço nessa
dimensão, nesse nível.
Se a pessoa puder de fato fazer isto: só exercer o pensamento quando ele
é absolutamente necessário, e no restante do tempo, observar, olhar. De modo
que o pensamento que é sempre velho, que agora impede a real experiência de
olhar, possa se afastar e seria possível viver totalmente nesse momento, que é
sempre o “agora”."
II- "Nosso problema é, não é, que nossas vidas são
vazias, e não conhecemos o amor; conhecemos sensações, conhecemos publicidade,
conhecemos demandas sexuais, mas não existe amor.
E como este vazio vai ser transformado, como a pessoa
vai encontrar essa chama sem fumaça? Certamente, essa é a questão, não é?"
III- "Assim, o que chamamos de nosso amor é uma coisa
da mente. Olhem para vocês mesmos, senhores e senhoras, e verão que o que estou
dizendo é obviamente verdade; de outra forma, nossas vidas, nosso casamento,
nossas relações seriam inteiramente diferentes; teríamos uma nova sociedade.
Nós nos vinculamos a um outro, não pela fusão, mas por contrato, que é chamado
amor, casamento.
O amor não se funde, ajusta – ele não é
pessoal nem impessoal, é um estado de ser. O homem que deseja se fundir com
algo maior, unir-se com outro, está evitando miséria, confusão, mas a mente
está ainda separada, o que é desintegração. O amor não conhece fusão nem
difusão, ele não é pessoal nem impessoal, é um estado de ser que a mente não
pode encontrar – ela não pode descrevê-lo, dar-lhe um termo, um nome, mas a
palavra, a descrição, não é amor.
Só quando a mente está quieta ela poderá conhecer o
amor, e esse estado de quietude não é uma coisa a ser cultivada. O cultivo é
ainda a ação da mente; disciplina é ainda produto da mente, e uma mente que é
disciplinada, controlada, subjugada, uma mente que está resistindo, explicando,
não pode conhecer o amor."
IV - Entrevistador:
Senhor, o amor pode ter um objeto?
Krishnamurti:
Quem está fazendo a pergunta? Pensamento ou amor? O
amor não está fazendo esta pergunta. Quando você ama, você ama – não pergunta
“Existe um objeto, ou não objeto, ele é pessoal ou impessoal?”.
Oh, você não sabe o que ele significa, a beleza dele!
Nosso amor, como ele é, é uma provação: nossa relação um com o outro é tal
conflito. Nosso amor se baseia na sua imagem de mim e na minha
imagem de você. Olhe para isto muito cuidadosamente, para a relação entre estas
duas imagens isoladas que dizem uma para a outra “Nós amamos”.
As imagens são o produto do passado, das memórias,
memórias do que você me disse e do que eu disse a você; e esta relação entre as
duas imagens deve inevitavelmente ser um processo isolador. É isso que chamamos
relação. Estar em relação significa estar em contato não só fisicamente o que
não é possível quando existe uma imagem, quando existe o processo auto-isolador
do pensamento, que é o “eu” e o “você”.
Nós dizemos: “O amor tem um objeto? Ou o amor é divino
ou profano?” – entende? Senhor, quando você ama, você não está dando nem
recebendo.
V- "Olhe para uma coisa que você viu e é de fato
maravilhosamente bela: uma estátua, um poema, um lírio no lago, ou um gramado
bem cuidado. E quando você vê tal pedaço de beleza, – não, não, quando você vê
isso, não pedaço – quando você vê tal beleza o que acontece? Naquele momento a
própria majestade da montanha faz você esquecer-se de si mesmo. Certo? Você já
esteve nessa posição? Quando você vê que você não existe,
apenas aquela grandeza existe.
Mas alguns instantes depois ou um minuto depois todo o
ciclo começa, a confusão, o tagarelar. Assim, a beleza está onde você não está.
Compreendeu isto? Compreendeu senhor? Oh, que multidão! A tragédia disto. A
verdade está onde você não está. Beleza, amor está onde você não está. Porque
nós não somos capazes de olhar para esta coisa extraordinária chamada
verdade."
VI- "O pensamento será sempre limitado pelo pensador
que é condicionado. O pensador é sempre condicionado e nunca está livre. Se o
pensamento ocorre, imediatamente a ideia acompanha.
A ideia a fim de atuar está destinada a criar mais
confusão. Sabendo de tudo isto, é possível agir sem a ideia? Sim. Este é o
caminho do amor. O amor não é uma ideia; não é uma sensação; não é uma memória;
não é um sentimento de transferência, um artifício de autoproteção.
Só podemos estar cônscios do caminho do amor quando compreendemos todo o
processo da ideia.
Ora, é possível abandonar os outros caminhos e
conhecer o caminho do amor, que é a única redenção? Nenhum outro caminho,
político ou religioso, resolverá o problema. Isto não é uma teoria que você tem
que ponderar e adotar em sua vida; deve ser real...
...Quando você ama, existe ideia? Não aceite isto;
apenas olhe, examine, entre nisto profundamente porque todo outro caminho nós
tentamos, e não há resposta para a miséria. Os políticos podem prometê-la.
As chamadas organizações religiosas podem prometer
felicidade futura, mas nós não a temos agora e o futuro é relativamente sem
importância quando estou faminto. Nós tentamos todos os outros caminhos; só
podemos conhecer o caminho do amor se conhecermos o caminho da ideia e abandonarmos
a ideia, o que é agir."
Fonte: https://www.facebook.com/pages/Krishnamurti-Brasil
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